Conheço a saga Halo somente há ca. de 2 anos, e só terminei MCC no início deste ano, mas gostei tanto da história e da proposta dessa extrapolar a uma série de jogos numerada, que resolvi entender um pouco mais desse universo.
Ouvindo e lendo algumas opiniões recentemente (pelo menos as que possuem algum fundamento ou vinda de quem acompanha a série há muito tempo), trago algumas considerações a mais, apenas para contribuição e reflexão (minha inclusive):
1. Sobre essas mudanças diversas em Halo 5 e até mesmo um certo estranhamento com algumas mudanças na historia in game, eu desconfio que tenha a ver com
motivos comerciais – investidores querem retorno (pelo visto, conseguiram, faturando na primeira semana U$400 milhões, pelo que entendi em jogos e bundles).
É claro que isso tem grande risco no longo prazo, como temos visto com o próprio COD, que vende muito mas a história deixou de ser interessante há muito tempo.
2. O storytelling do Halo 5 realmente tem alguns problemas, com
diálogos simplistas até demais e com menor carga dramática (não tem como comparar com as dúvidas e reflexões levantadas pelo Chief, Cortana e mesmo o 3433 Guilty Spark da trilogia original).
Talvez também pelo motivo anterior (lucro), simplificaram mais a linguagem, tá parecendo um
blockbuster Hollywoodiano, oferece boa diversão, mas meio "pasteurizado". Talvez se baseiem na hipótese de que se o jogo tiver uma linguagem mais "complexa", muita gente não irá jogá-lo, e precisam de um público mais casual porém numeroso, que compra muitos jogos ao longo do ano, banca o jogo.
Por outro lado, vimos jogos como The Witcher e Dragon Age Inquisition, com histórias excelentes, adultas e no geral bem construídas, que venderam bem, talvez não tanto quanto Halo, mas ainda assim aumentaram o faturamento de suas publishers.
Isso traz outro risco a Halo, pois pode virar um Frankenstein, com livros muito bem escritos para os fãs, multiplayer bom (mas aí tem outros tantos para competir) e histórias superficiais e dispensáveis.
3. Outro problema do jogo foi a
campanha de Marketing, venderam uma história incrível e entregaram outra diferente (ainda assim muito boa). Porém, a quebra na expectativa gerou insatisfações. Demorei de mudar a "chave" de
Hunt The Truth para a saga Reclaimer e quem conseguiu isso, achou o jogo muito bom.
Mesmo assim, por mais que Halo 5 tenha uma história por vezes “mal contada”, tentando trazer mais e mais “compradores”, ficou numa região limite. Por mais estranho que pareça, talvez tenha pesado mais para agradar aos fãs, com elementos abundantes sobre o lore já construído, ilustrando o que traz nos livros, trazendo elementos novos dispersos nos diálogos dos NPCs e companions, nos colecionáveis e na “Intel”, nos ambientes (ruínas e construções, relevo e biota), e até na trilha sonora (fenomenal e dramática na medida).
Como sou recente na franquia, fiquei perdido em meio a tanta informação, mas maravilhado com a
riqueza de detalhes, sempre desconfiando do que se poderia ser cada coisa que via, relacionando ao pouco que já li. Como um bom curioso, viajei em cada mundo que passava:
-
Meridian (um satélite de um gigante gasoso, vitrificado pelo glassing, em meio a uma exploração econômica de uma grande corporação e comandado por uma IA estilo Big Brother. Alguem achou alguma referência a Maya / FERO por lá?
).
- Sangheilos (planeta natal dos Sangheilli, achei tudo impressionante, ancestral, uma viagem a cada área e cada elemento do cenário, fiquei fascinado por Sunaion, passava a impressão clara de uma corte teocrática militarista, com áreas meio orientais).
-
Genesis (finalmente pude ver o resultado do trabalho da casta dos Lifeworkers e da catalogação da Librarian, uma fauna viva de aparência “pré-histórica” e uma flora vibrante meio estilo Avatar).
Pois é, colocaram muita coisa ali, deram material para quem gosta se debruçar, o que poucas obras literárias ou transmedia anteriores deixaram para seus fãs, talvez Star Wars (mas não conheço o suficiente desse universo muito além da trilogia original para relacionar aqui).
4. Por fim, na minha opinião, a
maior potencialidade do jogo pode ser sua derrocada: o
TRANSMEDIA STORYTELLING. A proposta da MS vai além do que a maioria dos jogadores atuais de
Xbox conseguem entender, seja pela sua duração, seja pelo tamanho da obra (entre jogos, livros, HQs e séries, já passa 30 / 40 trabalhos).
A
saga Halo não está restrita aos jogos, ela obrigatoriamente está nas outras medias, nasceu assim (livro The Fall of Reach + Halo: CE se complementando e assim por diante em todos os demais). Isso é fantástico, foi inclusive o que me interessou na saga.
Porém, isso já gera um primeiro problema para quem não vive nos mercados “prioritários”, pois pouco do material está em outra língua que não a inglesa.
Por outro lado, o perfil geral da população tem mudado, há uma percepção geral de que a média dos jovens (generalização não muito fundamentada) lê cada vez menos, principalmente nesse mercado de jogos, que já não é mais restrito aos “nerds” e “geeks”.
Ainda nesse tópico, percebo que, em alguns sites e fóruns internacionais mais cuidadosos, ainda se discute o lore do jogo em profundidade, mas a cada dia são a exceção,
nem todo mundo quer ler uma análise aprofundada sobre um jogo, quer uma NOTA, daí a maioria dos avaliadores se foca somente com o que está contido na campanha, de forma superficial, de preferência com notas polêmicas para
gerar "cliques".
Já li e ouvi comentários extremamente superficias, fruto da falta de entendimento estrutura transmedia da saga ou mesmo da simples antipatia do autor pelo
XBox One, 343i ou MS.
Enfim, o
futuro de Halo será visto no futuro (redundante, né?): se a 343i / MS vão desistir dessa forma de “contar a história”
ou se vão tentar manter as coisas no trilho a partir de Halo 5 (que trouxe-nos um excesso de referências às demais medias da saga, deixando muita coisa por ser contada nas HQs, séries e livros).
Ainda assim, a
Saga Reclaimer tem potencial para ser mais interessante ainda, podemos ter mais 2 ou 3 jogos "matadores" até ser concluída, com um Chief totalmente diferente, transmutado em
Segunda ou Terceira Forma, quem sabe?
Torço para que a 343i / MS consigam contar algo assim ou mesmo nos surpreenda com algo melhor, sem deixar que se percam no anseio de toda empresa: equilibrar entre o
lucro (atraindo a massa de consumidores que pagará para jogar um jogo dinâmico e com mecânicas atuais) e entre manter a
base de fãs (que se interessam no lore do jogo e querem mais profundidade nos personagens sem se distanciar muito da mecânica clássica).
Talvez a saga chegue a um ponto que a MS simplesmente dê um ponto final à franquia, garantindo um legado futuro aos interessados? Só espero que não abortem a história por desinteresse ou que não a estraguem a ponto de ficar desinteressante e descartável.
Paro por aqui, e me desculpem pelo tamanho dos posts, mas espero que possa contribuir com a discussão do podcast e aqui no PXB fórum.
Abraços...