Fórmula 1 é um assunto de muito debate entre os entusiastas da velocidade. No Brasil, a grande maioria que curtia a categoria simplesmente a deixou de lado após a partida do maior herói brasileiro. Aqueles que permaneceram viram grandes avanços na tecnologia, o surgimento de novos grandes pilotos e, também, a contínua redução do interesse público pelo esporte graças a inúmeras decisões equivocadas tomadas pela administração da F1 e seu chefe, Bernie Ecclestone. Algumas delas beneficiaram o esporte, trazendo mais segurança para os pilotos. Mas a maioria causou polêmica, como os restritivos limites de uso de pneus e motores e gerenciamento de combustível, que acabam diminuindo a competitividade na pista, separando ainda mais as grandes equipes das pequenas e fazendo com que a estratégia de equipe acabe sendo aparentemente mais importante que o talento na pista.
Pra piorar a situação, a temporada de 2013 viu o fim dos incríveis motores V8, com sua inacreditável capacidade de gerar mais de 700 cavalos de potência em rotações inimagináveis para carros de rua e mais adequadas a motocicletas de alto desempenho (acima de 18000 rpm). Em 2014, a busca por menor consumo de combustível e uma categoria mais responsável com o meio-ambiente levou ao uso dos pequenos motores V6 1.6 turbo que, embora poderosos (também na faixa dos 750 cavalos), eliminou o incrível ronco característico dos antigos carros por algo considerado sem graça pelos aficcionados. Até mesmo esse simples detalhe parece ter desagradado a alguns milhares de espectadores e fãs, que vem buscando outras categorias do automobilismo internacional para saciar sua sede por velocidade.
Mas ainda existe uma grande fanbase bastante fiel à Fórmula 1, que está altamente antenada com a categoria e, mesmo depois de tantas mudanças, curte acordar de madrugada para acompanhar seus pilotos preferidos em alguns dos mais incríveis circuitos do planeta arriscando suas vidas em ultrapassagens a mais de 300 km/h, disputando pontos de freada lado-a-lado, fazendo curvas em apenas duas rodas ao tocar nas zebras, pegando o vácuo do carro à frente debaixo de chuva torrencial e visibilidade extremamente limitada, colocando suas vidas e carreiras em risco pela possibilidade de reduzir seus tempos de volta em alguns centésimos... até milésimos de segundo.
É para esses fanáticos que a Codemasters vem lutando, desde 2010, para desenvolver o jogo de Fórmula 1 definitivo. E o recém-lançado F1 2016 chega bem perto disso, pois consegue balancear muito bem a emoção e a dificuldade de guiar um carro da categoria, criando possibilidades para que todos os jogadores (dos mais novatos aos hardcore) possam se sentir em casa atrás do volante. O imenso número de opções de controle e dificuldade apresentados abrem um enorme leque de possibilidades para que qualquer um, por mais limitado que seja, possa se sentir um ás do esporte. Sem dúvidas, é bem melhor participar da ação do que meramente assistí-la na TV.
O modo carreira é bastante compreensivo. Abrangendo até 10 temporadas, o jogador pode escolher qualquer uma das 11 equipes deste ano como ponto de partida. Não existe a limitação de começar por baixo, nas menores equipes como a Manor Racing ou a Haas F1. Quem quiser, já pode iniciar na McLaren, Williams, Mercedes ou Ferrari. Mas sua escolha de equipe também se reflete na dificuldade dos objetivos que devem ser atingidos durante a temporada. Ou seja, não se trata de pilotar, mas participar de cada passo durante o final de semana, desde os treinos livres, os classificatórios e a corrida em si atingindo tais objetivos propostos. Por exemplo, o programa de gerenciamento de pneus, em que é necessário completar um certo número de voltas sem desintegrá-los. Para isso, é necessária finesse nos controles, sem exageros na aceleração, frenagem e tomadas de curva. E pra piorar, tal objetivo deve ser atingido dentro de um limite de tempo de volta. Sucesso nesse desafio dá pontos que podem ser usados para o desenvolvimento de upgrades para o seu carro.
Pilotar um carro de Fórmula 1 atual pode ser uma tarefa colossal. E em F1 2016, isso fica bem claro. Além de se concentrar na pista e evitar um acidente a 300 km/h, o piloto deve prestar atenção à regras da categoria. Todas elas foram inseridas no jogo, o que significa a possibilidade de desqualificação por acidentes e cortes de curva, além da necessidade de observar os fiscais de pista no caso de uso das bandeiras coloridas de sinalização. E pra completar, o seu engenheiro de equipe estará te chamando pelo rádio durante a corrida, sugerindo estratégias para troca de pneus e combustível.
Acima disso tudo, também é necessário lidar com a entrada do safety car, a volta de apresentação no início de cada corrida, velocidades de entrada e saída dos boxes e o controle de arrancada na largada. Essa é uma das recentes mudanças implementadas na categoria neste ano e também utilizada em F1 2016. Agora, é o próprio piloto deve liberar a embreagem no momento exato da largada e atingir as rotações ideais do motor de acordo com os pneus e condições da pista. Muita aceleração e o carro fritará pneus desnecessariamente. Pouca aceleração e o motor acabará perdendo torque inicial, dificultando sua saída. Mas, claro, essa é uma dentre as mais diversas opções avançadas de realismo que podem ser desabilitadas nos menus pelo jogador mais casual. Afinal, F1 2016 foi criado para atender um público bastante diverso.
Para quem quer viver a experiência de maneira ainda mais realista, tudo que foi mostrado até aqui pode ser feito também no modo multiplayer, em que um grid oficial de até 22 jogadores poderão criar uma liga e simular uma temporada completa juntos, passando por todas as etapas (treinos, classificação e corrida) nos 21 circuitos internacionais deste ano.
Mas toda essa atenção aos detalhes não serve para nada se a física de jogo não for bem trabalhada. E, felizmente, esse não é o caso em F1 2016. A já famosa engine Ego da Codemasters atinge sua mais recente evolução, garantindo um visual convincente, 60 quadros por segundo na maior parte do tempo (sofrendo apenas em momentos de grande carga visual, como estar numa posição intermediária em Mônaco, num dia de chuva). Mas nada que comprometa a experiência de jogo. É importante lembrar que, embora seja um produto da mesma produtora que DiRT Rally, diferentes ciclos de produção impediram que F1 2016 pudesse compartilhar totalmente de sua engine, embora alguns de seus subcomponentes sejam tenham sido utilizados e melhor adaptados à simulação de Fórmula 1.
Isso significa que, no geral, os gráficos são muito bons. Alguns dos circuitos são um pouco tediosos, mas isso se deve à natureza do design dos circuitos atuais, e não do jogo em si (obrigado Hermann Tilke... só que não). E o som dos motores é um tanto enjoativo e sem caráter como nos carros reais – mais uma vez, culpa da Fórmula 1 em si, e não da Codies.
E na pista? Depois de algumas boas horas de jogo, é possível dizer que a física dos carros na pista está bem trabalhada. A sensação de velocidade, reações do carro e dirigibilidade demonstram bastante fidelidade com aquilo que podemos esperar destes veículos leves e potentes. Para quem joga no joystick, há uma numerosa quantidade de auxílios que podem ser ajustados minusciosamente para permitir respostas imediatas e um excelente desempenho, equivalente àqueles que podem jogar com um volante. E quem tiver um desses vai curtir ainda mais, graças a inúmeros ajustes que deixarão o jogo ainda mais realista.
Por fim, fica a dúvida: quem deve comprar F1 2016? Se você é um fã da categoria, posso afirmar que é compra obrigatória, pois traz a possibilidade de pilotar o jogo mais autêntico do momento, com todas as regras, circuitos, equipes e pilotos atualizados. Mas para quem não é fã da categoria mas curte jogos de corrida, ainda se mostra uma compra altamente recomendável, graças ao seu modo carreira bastante desafiador, seu nível de simulação convincente e as inúmeras opções de configuração, que o tornam acessível a quem quiser sentir o gostinho de estar no alto do pódio.