Criar jogos era mais fácil por conta das tecnologias envolvidas: quanto mais complexas, mais pessoas e mais tempo são necessários. As franquias que citou exemplificam muito bem isso: Gears of War teve quatro jogos principais no Xbox 360 (a trilogia clássica e um prequel), dois no Xbox One (4 e 5) e, bobeando, vai ter um só no Series X|S - e estamos falando de uma equipe (Coalition) com competência técnica reconhecida no mercado.
Tem que se levar em consideração também o alcance que redes sociais possuem hoje em dia e como essas redes aproximaram pessoas e construíram comunidades em volta dos assuntos que curtem, sejam esses assuntos falar bem de algo que gostam ou mal do que não gostam. A própria lógica de funcionamento das redes faz com que todos sintam-se na obrigação de ter uma opinião, que todos precisam falar que gostaram ou não gostaram de algo, o que tá muito longe da realidade mas que é incentivado pelas próprias redes: quem não fala acaba caindo na prioridade do algoritmo, então, fala qualquer abobrinha pra pelo menos aparecer.
Com a quantidade de desenvolvedores que falam sobre o quão arriscado é experimentar e propor novas ideias hoje em dia, boa parte da criatividade e desse pensamento fora da caixa se encontram em jogos independentes. Projetos menores, de equipes menores, criados de forma um pouco mais saudável/sustentável e que não precisam de um sucesso estrondoso para se pagar.
O mercado AAA nunca foi tão focado na parte de "negócios" do que atualmente, e isso acaba gerando um peso muito grande na balança. De um lado, desenvolvedores que gostariam de arriscar ou fazer algo um pouquinho fora da curva; do outro, publishers bilionárias, com capital aberto e análises de mercado mostrando como jogar seguro pode gerar mais dinheiro.
Diversão é uma palavra que definiu os videogames por muitos anos. Hoje, não saberia dizer qual, mas diversão não é. Boa parte dos jogos segue tanto uma planilha indicando o que deve ser feito para agradar a maior parte do público que a originalidade e criatividade do estúdio podem se perder. São poucos os casos de jogos grandes que a gente olha e pensa que o estúdio arriscou fazer algo novo e diferente, mas que pode desagradar uma parcela dos fãs.
A própria indústria tentando ser reconhecida como mais séria acabou colocando a diversão mais pra baixo no ranking de prioridades. Muita gente cita Zelda Breath of the Wild e Tears of the Kingdom como exemplos do que o mercado poderia ter tentado nos últimos anos: imagina o que daria pra fazer em termos de interação com o cenário, física e agência do jogador em um hardware do Xbox ou PlayStation se menos atenção fosse dada para a parte visual e mais para as mecânicas de jogo - afinal, é um videogame. O problema é que o grande público, aparentemente, quer essa aproximação cada vez maior com a realidade.
Provavelmente, não vai fazer um jogo pior porque a parte gráfica sempre avança, Gears 5 ainda é um jogo bem bonito até hoje e a Coalition é competente pra ir além. Só não vejo como algo que vai fazer o jogo vender mais ou menos, é um aspecto técnico que vai ficando cada vez mais próximo de um limite aceitável em termos de energia dispendida para alcançar o melhor resultado possível.
