Thief foi lançado oficialmente nos EUA no dia 25/02/2014, sendo um reboot da série (foram lançados três jogos anteriores, sendo o último em 2004).
Por este fato, o jogo pode ter criado expectativa aos fãs da série que, naturalmente, esperam uma qualidade que corresponda ao hype. Todavia, o jogo nem de longe terá a capacidade de atender as expectativas dos gamers.
O jogo é em primeira pessoa e gira em torno da história de Garret, que retorna à sua cidade, agora controlada por um tirano chamado "The Baron". O tirano, além de controlar a cidade, ignora os cidadãos, deixando-os morrerem de doenças e na miséria. A ambientação, portanto, é bem sombria, com muita neblina e naturalmente escura. O jogador, conforme era de se imaginar, é um mestre na arte de roubar, numa ambientação que lembra o medieval steampunk combinado com uma arquitetura barroca / franciscana.
RESUMO PARA QUEM NÃO QUER LER
O jogo tem uma atmosfera e temática bacana, mas fica perdido e sem uma identificação. Parece uma mistura de coisas boas de outros jogos num mesmo lugar, mas sem a essência ou a liga necessária para uni-las e transformá-las em algo extremamente inovador ou simplesmente bom. Possui, logicamente, um ótimo contexto para desenvolvimento de continuações, mas a equipe precisará arregaçar as mangas.
É um jogo 8 ou 80; ou você gosta do estilo de andar explorando o cenário sem ação frenética ou vai odiar.
As vendas foram apostadas no conceito de "é o único jogo stealth disponível no momento".
GRÁFICOS
O jogo não possui um gráfico impressionante, é bem lugar comum, com diversos recursos de camuflagem de renderização e loadings como uso intensivo de neblinas entre outras. O problema foi a expectativa alta para um "nova geração". Depois de ver os gráficos de Ryse e Forza 5, fica difícil não estabelecer um "padrão" de qualidade alta.
As imagens exibidas e espalhadas na web dão uma sensação de serem imagens trabalhadas que nem de longe representam a percepção do que eu "vi" na televisão. Ou minha televisão está extremamente mal configurada ou, embora estivesse jogando de óculos, minha miopia aumentou.
De toda forma, tirando essa sensação "embaçada", justificada pelo clima nebuloso e escuro, a iluminação é razoável, com pontos escuros e claros que exigem uma análise detalhada antes de entrar com tudo no ambiente.
CUTSCENE
Relativo às cutscenes, elas são um espetáculo à parte... caso o seu último console tenha sido um Nintendo 64 ou Playstation 1. Qualquer outra coisa lançada depois dessa época produziria cutscenes mais bonitas.
Não generalizando, algumas partes são bonitas e bem fluídas, mas algumas são simplórias que o próprio jogo ingame aparenta ser mais trabalhado. A impressão que passa é que foi feita por dois times: um de profissionais e outra de escraviários trabalhando durante algum feriado.
A imagem acima, por exemplo, é de uma cutscene logo no começo do jogo, cuja roupa do personagem (The Baron) deve ser algum saco de estopa engomada no cimento. O penteado dele também, embora nessa parte esteja ocorrendo um espetáculo/culto religioso com muito vento e explosões, ele deve ter feito um penteado com muito laquê, nenhum fio de cabelo se move. As expressões faciais são tão detalhadas quanto de uma artista de televisão que acabou de colocar botox pela décima vez.
Numa linha filosófica, consegue se desculpar que tanto os gráficos quanto as cutscenes passam um aspecto "envelhecido", de um jogo ou gráfico já cansado, representando o cansaço do povo contra as opressões do The Baron.
SOM
A música de fundo e a ambientação sonora (barulho de uma moeda, da chuva etc) salvou o áudio.
Mas as vozes, poderia ser um destaque ao jogo, ainda mais no estilo Stealth, infelizmente não se encaixa com o propósito. Num mundo moderno com existências de home-theaters 7.2, com percepção total do som em 360 graus, Thief não atende nem a um sistema monoaural. Não posso opinar muito aqui nesse ponto, pois sou deficiente auditivo e minha percepção sonora é um lixo naturalmente. Mas utilizando os recursos tecnológicos existentes sou capaz de identificar a origem do som (frente, trás, lado etc).
Em Thief essa percepção é inexistente. É praticamente um som onipresente, vem de todos os lados, em qualquer lugar. É impossível detectar a presença de um inimigo, bem como sua distância ou a localização exata da origem das vozes antes de avançar no mapa. Às vezes, a percepção é que a voz vem por trás, quando o inimigo está na sua frente ou de que ela está bem perto quando o inimigo está no fundo do mapa. Uma pena.
JOGABILIDADE
Só joguei o gameplay básico, não vi os outros modos (consistem em caças ao tesouro etc).
O jogo possui uma missão principal e quests paralelas. Caso vá direto para a missão principal, conforme verifiquei comentários na internet, é possível terminar o jogo em 6 horas.
As sidequests existentes consistem em ir roubar determinado item, contudo, não apresenta qualquer dificuldade, basta entrar na casa indicada, pegar e acabou.
É possível uma certa liberdade ao jogador e ao terminar um capítulo será atribuído o seu estilo de jogo: Ghost, Opportunis ou Predator (ser um sombra, roubar tudo ou sair matando tudo).
As fontes de luz do jogo influenciam na sua posição de "stealth". No canto inferior da tela tem uma bola que fica preta ou branca, mostrando se você está na "sombra" ou "na luz". Nos guardas aparecem um olho em cima da cabeça deles indicando que você está no campo de visão deles, passando para amarelo quando fica desconfiado ou vermelho (te viu e está te procurando).
A movimentação também influencia no stealth, agachado e andar devagar te deixa menos visível. A movimentação no cenário também influencia, pisar em folhas ou água aumenta o barulho e andar em cima de um carpete é tão silencioso que você se sentirá como uma gazela saltitando num campo florido.
Infelizmente, esses elementos acima são obscurecidos pela inteligência artificial. No modo de dificuldade fácil ou normal, o jogo é uma brincadeira de criança. Os guardas, cuja IA bate o nível de "burrice", passa a ser "asno com QI 0"; ao ponto de você agachar atrás de uma mesinha de vidro, na frente dele, num ambiente iluminado e ele não conseguir te ver.
A movimentação pelo cenário é bem liberal, podendo utilizar arco para atirar cordas de auxílio para escalar, subir nos telhados, arrombar algumas janelas facilmente identificadas (uma aura azul pulsante cegante indica os locais que você pode adentrar).
Pelos locais do cenário, em uma quest por exemplo, você tem várias entradas possíveis, sendo parcialmente linear. Exemplo, o jogo indica para ir até determinada loja roubar um livro, mas, a depender do local e do cenário, você pode decidir entre arrombar a porta da frente, a porta dos fundos (no bom sentido), entrar pela janela ou subterrâneo.
Além disso, as quests possuem recompensas distribuídas ao terminá-las, oferecendo ouro a depender do seu estilo de jogo (roubar sem ser visto; matar 5 com uma flechada na cabeça, etc).
Como habilidade, Garret possui o "Focus", que permite uma visão mais apurada e reduz a velocidade do ambiente, destacando tudo que é possível mexer para a cor azul, aumentando a identificação e velocidade do que roubar ou arrombar.
Os equipamentos consistem em arco e flecha (com ponta de água para apagar fogo e manter a escuridão; com ponta de madeira; corda etc), um porrete, garrafas e vidros pelo cenário para atirar e tapear os guardas, entre outras tranqueiras que um ladrão utiliza para abrir portas, janelas, trancas etc
Independente dos pontos falhos, é legal você jogar como um ladrão invisível, roubando tudo o que você vê pela frente, criando um ciclo vicioso de querer explorar o mapa totalmente para roubar tudo que for possível. Aqui, acredito que proporcionará mais umas 15 horas de jogo.
O jogo possui habilidades que podem ser evoluídas (ganhando pontos conforme avançar da história ou doando dinheiro para Queen of Beggars). As habilidade são Intuition, Dexterity, Sense, Combat, Speed, Efficiency, Marksman e Stealth.
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E LOADINGS CAMUFLADOS
Matou o jogo. Como eu disse, os inimigos são burros, esbarram um nos outros numa perseguição e só falam a mesma coisa.
Além disso, existem diversos loadings durante a cidade e loadings camuflados... para abrir uma janela, por exemplo, tem que segurar o X e depois ficar apertando até estragar o botão, não importando a velocidade ou quantidades de apertões, o que significa nitidamente que estão apenas camuflando um loading. (E uma janela do jogo não tem isso, na hora que aparece o X para apertar, a tela some e é substituída por um LOADING).
INCOERÊNCIA NA LÓGICA DO JOGO
Sou um ladrão, num mundo medieval, escalo torres, casas, entro em qualquer lugar, roubo tudo, jóias, ouros, enfim, o Garret é o MacGyver da época medieval, o cara macho que apaga as velas com os dedos.
Mas para roubar alguns itens ou entrar alguns locais é necessário ferramentas específicas. Até aí tudo bem. Como um bom ladrão, saí vagando no mapa procurando essas tralhas penduradas no cenário e tem várias, mas são enfeites.
A IRONIA É: Os equipamentos que você usa para roubar as coisas você não pode roubar no cenário, você tem que COMPRAR numa loja.
Tinha que ter a opção de matar o vendedor e limpar a loja ou roubar a loja, o marceneiro, o padeiro, o mendigo.
O segundo ponto incoerente é que todo mundo na cidade está fodido. Sem comida, mendigando, doente, sem nada. Mas todo mundo tem um pote de ouro em casa, canetas de ouros, diamantes, jóias, obras raras.
VALE A PENA COMPRAR?
Quando sair no Games with Gold, sim. Comprei no lançamento por R$ 119,00 na Live brasileira, minha sorte que eu gosto do estilo "perder tempo da vida andando no cenário procurando as coisas sem ação nenhuma".
