Deve a Nintendo dizer adeus às consolas domésticas?

Jotabe

Jogador
Fevereiro 18, 2008
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Indaiatuba-SP
Michael Pachter pode mandar muitas ao lado mas feitas as contas, são bem mais aquelas que acerta em cheio. Em Março de 2012 previu que a Nintendo se iria “Dreamcastar”(tradução possível de “Dreamcast itself”) com a Wii U. Era uma previsão algo arrojada, já que ainda faltavam 8 meses para o lançamento da consola, mas que fazia todo o sentido uma vez que a consola da Nintendo reunia todos os ingredientes que levaram ao falhanço da Dreamcast e, consequentemente, à saída da Sega do hardware:
  • era bem menos poderosa que as suas concorrentes;
  • era relativamente inovadora;
  • dedicava-se exclusivamente a jogos(i.e. sem ou com muito poucas funções multimedia);
  • estava altamente dependente do sucesso de exclusivos first party;
  • o mercado mostrava pouco interesse e já estava a poupar para as consolas da concorrência;
A estas acrescento outra semelhança que entretanto surgiu: falta de apoio da Electronic Arts, a segunda maior editora do mundo(na altura da Dreamcast era a maior).
Ao fim de um ano de Wii U, a realidade parece confirmar a previsão de Pachter: a consola vendeu apenas 3.9M de unidades e, em apenas três semanas, já foi ultrapassada pelas vendas combinadas da Xbox One e PlayStation 4. Quanto é que tinha a Dreamcast vendido quando toda a gente correu a comprar a PlayStation 2? 2.6M de unidades. Ainda menos que a Wii U mas, dado que em 2001 o mercado de consolas era cerca de um terço do que é nos dias de hoje, é seguro dizer que, proporcionalmente, a última consola da Nintendo está a vender menos do que a de facto última consola da Sega.

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Deixaste-nos cedo demais.

As semelhanças são bem visíveis e, ultimamente, por toda a internet não se fala de outra coisa:
Deve a Nintendo abandonar as consolas domésticas e dedicar-se exclusivamente aos jogos?
Vamos ser diretos: a Nintendo é extremamente aversa à mudança. É uma empresa que prefere que o mercado venha ao seu encontro em vez de lhe tentar responder, uma estratégia que funcionou com a Wii mas que já tinha falhado com a GameCube e Nintendo 64, e que está a falhar mais uma vez com a Wii U.
A sua filosofia é extremamente conservadora e não muda desde a NES: as consolas servem SÓ para jogar. Apesar de terem tecnologia que o permitisse, nunca uma consola da Nintendo reproduziu sequer CDs ou DVDs. Isto talvez se deva ao facto de a Nintendo ser a única empresa do ramo que se dedica exclusivamente aos jogos e que acha que pouco tem a ganhar com uma consola multi-funções(entre outras coisas, a Sony tem interesse nos DVDs e Blu-rays e a Microsoft na integração com o Windows).
A realidade é que o público quer que as consolas sirvam para outras coisas que não apenas jogar e isto não é de agora. O leitor de DVD ajudou(e muito) à popularidade da PlayStation 2 e a Xbox 360 e PlayStation 3 foram das principais contribuidoras para a extinção dos clubes de vídeo, graças ao empurrão que deram a serviços como o Netflix. O foco da Microsoft na televisão com a Xbox One e as funcionalidades multimédia da PlayStation 4 mostram que as duas empresas estão a tentar responder ao que o mercado procura: um centro multimédia que sirva diversas funções de entretenimento. A Nintendo não vê as coisas dessa forma e não o faz por pura teimosia.

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Jogos são só uma parte daquilo que os jogadores esperam das suas consolas nos dias de hoje.

Não é a primeira vez que a empresa bate o pé às tendências do mercado; quando o Xbox Live dava os primeiros passos, seguindo as pisadas da Dreamcast, a postura da empresa foi semelhante. Em 2004, Iwata dizia que “os consumidores não querem jogos online”, um comentário hoje em dia anedótico de tão errado que é e cujas consequências ainda se sentem: o serviço online da Nintendo está vários anos atrás do Xbox Live e PSN e o sistema de contas associado a consolas é da idade da pedra. O serviço é grátis mas é tão mau que as pessoas preferem pagar para jogar online na Xbox One e PlayStation 4.
Com os seus concorrentes a oferecerem hardware que o público quer e com as vendas do mesmo a um ritmo que não vai dar espaço à Wii U para respirar, seria assim tão mal pensado a Nintendo juntar-se a eles?
Se não os podes vencer...
É verdade que a Nintendo tem uma história financeira invejável e dominou esta indústria durante anos mas as coisas rapidamente mudam se continuarem a não prestar atenção às necessidades do público. Querem um exemplo concreto?
Praticamente todos os leitores da Eurogamer já tiveram um telemóvel Nokia(só eu tive pelo menos 5). A empresa detinha uma posição completamente dominante em praticamente todo o mundo nos anos 90 e início dos 2000. Com a chegada dos smartphones Android e iPhone, a Nokia preferiu insistir no seu sistema operativo, não ligando à falta de apoio third party bem mais reduzida que nas outras plataformas. Aos poucos, a Nokia foi-se tornando irrelevante e, este ano, a sua divisão móvel foi vendida à Microsoft (espero que a tratem melhor do que a Rare). A partir de 2014 acabaram-se os telemóveis com o nome Nokia. A história da Nokia repete-se inúmeras vezes com outros líderes de mercado que insistiram que eles é que estavam certos(Blackberry, Kodak, Blockbuster, etc.) e eu não queria nada ver a Nintendo nessa lista.

A Nintendo tem tanto dinheiro que pode dar-se ao luxo de ter vários falhanços seguidos durante décadas mas existe algo pior do que falhar: tornar-se irrelevante.
É a maior empresa do mundo de video jogos, sem dúvida, mas a nova geração ainda agora começou e vai durar, pelo menos, mais 6 ou 7 anos. Seguindo a tendência do número de jogadores dobrar a cada geração e com as coisas a continuarem como estão, os títulos da Nintendo vão acabar por passar ao lado de dezenas de milhões de jogadores porque são exclusivos de uma plataforma que ninguém parece querer comprar.
O mais triste é que estamos a falar de IPs que, noutra consola qualquer, venderiam largos milhões de cópias.
Verdade seja dita, a maioria dos jogadores da Xbox e PlayStation adoraria meter as mãos aos exclusivos da Nintendo; apenas não querem comprar uma consola de propósito para o fazerem(dêem um salto à secção de comentários aqui na Eurogamer de qualquer notícia sobre Bayonetta 2 para verem do que falo).
Se a Nintendo se dedicasse apenas ao software, não tenho dúvidas de que Mario, Zelda, Mario Kart e Super Smash Bros. seriam os títulos mais vendidos de qualquer geração. Super Mario 3D World, provavelmente o jogo menos vendido da série no lançamento, teria sido um sucesso do tamanho de Call of Duty, se também tivesse sido lançado na Xbox 360 e na PlayStation 3.

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O melhor jogo next gen no mercado vai passar ao lado de quase toda a gente.

2014 prepara-se para ser um ano repleto de grandes exclusivos para a consola mas também vai ser o ano onde mais editoras vão abandonar o barco, como já fez a EA. FIFA 14 e Battlefield 4, dois dos jogos mais capazes de mover hardware, nem puseram os pés na Wii U. Grand Theft Auto V, o maior lançamento de 2013, nunca esteve para aí virado. Call of Duty: Ghosts vendeu umas míseras 70.000 unidades na Wii U e Deus Ex: Human Revolution não passou das 20.000. Duvido seriamente que, depois disto, a Activision e a Square Enix voltem a lançar títulos “adultos” na consola.
A Wii U está feita e eu aposto que a Nintendo vai mudar de estratégia e tentar vender a Wii U a um público mais familiar e infantil, como fizeram assumidamente com a Nintendo 2DS. Passa a ser uma espécie de “a minha primeira consola” e uma alternativa mais séria aos jogos de tablets que os miúdos devoram hoje em dia.
Custa-me ver a consola Wii U neste estado mas a verdade é que a Nintendo teve um ano para resolver os grandes problemas da consola e não o fez: torná-la ainda mais acessível e relançá-la de forma a acabar com a confusão de quem acha que a Wii U é um acessório para a Wii ou uma consola portátil.


A Nintendo está a ganhar pouco ou nada com a venda de hardware mas poderia compensar isso com vendas astronómicas de software.
Apesar do potencial enorme que teria uma Nintendo multi plataforma, não acredito que a empresa algum dia o faça(a não ser que as coisas piorem mesmo muito).
Não ter a sua própria plataforma não está no ADN da Nintendo e isso envolveria engolir uma dose bem grande de orgulho, uma prática que raramente associamos aos japoneses. Sinceramente, se as coisas se tornassem mesmo difíceis, preferia a Nintendo se juntasse à Microsoft ou à Sony em vez de a ver a desenvolver para ambas(no caso da Sony seria difícil dado que a PlayStation existe, precisamente, por causa de uma zanga entre as duas empresas).
Este cenário de parceria agrada-me mais porque a Nintendo é a grande inovadora desta indústria. Pode ter alguns percalços pelo caminho(como o Virtual Boy, o GameBoy Micro ou a Wii U) mas sem a Nintendo esta indústria seria uma seca descomunal. Só no hardware, introduziram o save game nas consolas, os comandos analógicos, a vibração, os comandos sem fios, o motion gaming. No software criaram e definiram tantos géneros que nem é possível imaginar um mundo sem Nintendo.
A Nintendo faz e o resto copia. Sempre foi assim e, se tudo correr bem, sempre será.

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Eu adoro a Nintendo.
Sem ela, nunca teria começado a jogar. Como outros filhos dos anos 80, a minha primeira experiência com video jogos foi Super Mario Bros. na NES. A GameCube é a minha consola preferida de todos os tempos e 2 dos meus 3 jogos favoritos de sempre são Super Mario 64 e The Legend of Zelda: Ocarina of Time.
Os jogos da Nintendo são mesmo muito especiais e devem ser jogados pelo maior número de pessoas possível. Quero que as crianças do futuro comecem a jogar com o Mario, que Zelda seja a sua primeira grande aventura e que façam as primeiras corridas no Mario Kart, seja numa consola própria ou não.

Fonte: http://www.eurogamer.pt/articles/2013-12-14-deve-a-nintendo-dizer-adeus-as-consolas-domesticas
 
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Thyago Rezier

Jogador
Junho 22, 2012
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Muito bom este artigo da Eurogamer, concordo com a visão do redator mas não gostaria de ver a Nintendo trabalhando em parceria com outra empresa e matando o seu hardware, apesar de que adoraria jogar um Mario online usando a rede da Live ou a PSN, além de poder conquistar uns troféus ou conquistas nos jogos, algo que sinto falta na Nintendo.

A verdade é que a Nintendo precisa se atualizar sem perder a sua essência, o hardware precisa melhorar um pouco, mas onde tem que haver a maior evolução neles é no sistema, trazer um sistema de amigos mais aprimorado, suporte a conquistas, rede online mais atrativa e uns bons recursos multimídia.

Se a maré continuar do jeito que está, seria bem viável eles lançarem um novo console prematuramente com tudo reformulado, talvez no início de 2015.
 
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User 1422

Guerreiro
Março 19, 2009
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Apesar do WiiU estar fracassando, acho que ainda está longe do caso da Sega que tinha todas as fichas apostadas no Dreamcast e já vinha do fracasso do Saturn. O Wii foi um tremendo sucesso e o 3DS ainda tá arrebentando, então creio que o dia de vermos as franquias da Big N em consoles da MS ou da Sony estão bem longes. O mais provável mesmo é a Nintendo engolir o sapo do WiiU e lançar um novo console, senão WiiFodeu.
 

Johannes

Guerreiro
Novembro 11, 2006
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A Nintendo virando empresa só de software é algo que eu só vejo acontecer se a empresa estiver à beira do fim e precise fazer isso porque não pode mais lançar um console com as próprias pernas, coisa que está bem longe de acontecer.

O problema de lançar um novo console é que se pararmos pra pensar, pouca coisa mudaria de fato, ou seja, a Nintendo continuaria focando em seus jogos internos, continuaria a ter relações ruins com as grandes publishers e ainda teria de enfretar o monstro de dois consoles com lançamentos muito fortes como concorrentes. Aliando isso à falta de uma plataforma online e experiência em títulos mais adultos e de ponta, não vejo a Nintendo tendo muita chance de virar a mesa ou equilibrar o jogo. A coisa está bem feia mesmo no setor de consoles de mesa e eu não vejo um novo Wii acontecendo.

Depois que a onda do 3DS passar, seria bom ela voltar os olhos para algum tipo de portátil híbrido com tablet ou smartphone.
 

Burga

Guerreiro
Junho 5, 2006
9,277
4,553
Deveria SIM.

Se Mario 3D World fosse um lançamento multi plataforma, faria GTA V suar frio neste ano que passou.
 

Nilsonsbc

Jogador
Novembro 19, 2007
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Só faço um apelo, comprem consoles Nintendo, não deixem coisas como Mario Galaxy e Mario 3D World acabar... Esse é tipo de jogo que não teremos o prazer de jogar num xbox One ou PS4.
 

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