O GTA SA é um jogo sobre cultura suburbana, periferia norte-americana. Não esqueço do final do game, onde o The Truth diz para o CJ "Y
ou beat the system! I tried for 30 years!", como se a geração da contracultura dos anos 60 admitisse para as novas gerações seu fracasso em mudar o establishment, enquanto celebra o êxito destas. Isso porque, no fim, o CJ acaba vitorioso mesmo sendo empresário (Madd Dogg, Oficina em Los Santos) e levando os "seus" para além da Groove Street, contra todas as forças possíveis que os mantiveram lá por tanto tempo.
Eu acredito que esse tipo de game deva ter dado (muito) mais trabalho do que os outros, simplesmente porque os desenvolvedores recriaram uma cultura da qual nunca fizeram parte.
Já GTA V é muito maior, mais ambicioso: é a cultura norte-americana inteira recriada em três tipos sociais: a classe média-alta urbana (Michael), a periferia urbana (Franklin) e o interior (Trevor), que curiosamente são exatamente os tipos eleitorais entendidos pelos partidos. Jogar com o Trevor (ou na região do Trevor) significa lidar com missões envolvendo conspiracionismo, terras sem-lei, basicamente Sul dos EUA, enquanto jogar com o Franklin trabalha temas abordados pelo GTA SA. Já Michael demonstra a futilidade, falta de propósito, perdido em operações de resgate de filhos mimados, psicólogos, celebridades e dinheiro gasto com religiões duvidosas (Epsilon). E ele ri de todos os três estereótipos igualmente, não faz distinção ou ressalva, é o cúmulo da iconoclastia. Não significa ser melhor que GTA SA, mas simplesmente maior e mais agressivo.
Tanto é verdade que a Rockstar tinha receio de lançar um
novo GTA na era Trump, onde os ânimos estavam acirrados, ia ser difícil mesmo. GTA V só foi possível em sua época, hoje seria
bem difícil não sofrer cancelamento pesado. Acho que só não contavam com o fato de que com Biden pouca coisa mudou.
Dan Houser, o cofundador da Rockstar, revelou em recente entrevista à GQ que está feliz que o próximo jogo do estúdio seja "
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