Ainda acredito que o maior perigo não para um bloqueio, mas para concessões, é a questão do mercado de streaming.
A parte da Sony é bem fácil de contra-argumentar, a Microsoft não vai virar líder de mercado da noite para o dia, os consumidores não vão sair correndo de um console para outro, a Sony tem total capacidade de investir em novos jogos/parcerias para tentar criar algo interessante nesse espaço (não no tamanho de Call of Duty, mas a expertise da Bungie agora permite voos mais altos nos jogos on-line). A gente tem vários exemplos de como posições de liderança/força no mercado de consoles acabaram resultando em menos opções para os jogadores (Nintendo na época dos anos 80-90 onde era basicamente "ou lança exclusivo pra mim ou nem quero ver", Sony com um domínio absurdo de mercado na época do PlayStation 1 e 2 abarrotando exclusividades third party abanando a sua ampla vantagem de base instalada, o próprio
Xbox no final da geração 360 exigindo que jogos independentes fossem lançados ou exclusivos ou pelo menos no mesmo dia que no PlayStation - e que manchou demais a imagem da marca no mercado independente na virada de geração 360/One, servindo de embrião para um novo modelo do excelente ID@
Xbox que temos hoje).
Já quando entram no ainda embrionário mercado de serviços de jogos em nuvem, a coisa aperta porque a Microsoft tem uma posição privilegiada de estrutura de servidores ao redor do mundo, liderança incontestável (mais de 70%) do mercado de sistemas operacionais para computadores/laptops, uma posição invejável do ponto de vista dos jogos em si (através do
Xbox, com IPs estabelecidas que os jogadores já gostam hoje em dia), e que seria somada às IPs da Activision. A gente viu recentemente o Google decidindo sair desse mercado, muito por erros próprios no Stadia, mas ainda assim, dando um empurrãozinho no argumento de que, pra quem está de fora do mercado de jogos, é muito difícil de entrar - e isso, no longo prazo, pode resultar em um mercado mais restrito, onde poucas empresas são realmente relevantes. Diferente do Cade aqui no Brasil, que concluiu que o modelo de assinatura de jogos ainda não é um mercado em si, mas um complemento de algo maior, parece que o CMA não tem esse entendimento. E aqui, a Microsoft se faz bem de sonsa, dizendo que os jogos do
Xbox Cloud Gaming não utilizam o Azure (
contradizendo ela mesma -
"Estamos criando um futuro que combina o legado dos games de Xbox com o poder da Azure") ou que a posição do Windows não é relevante já que eles "não fazem streaming de jogos de PC" (esquecendo que promovem o PC como um ponto de contato com os jogos em nuvem do
Game Pass e cujo app
Xbox vem pré-instalado).
A Microsoft tem dito que quer manter Call of Duty no PlayStation, mas em casos assim, só palavras não valem muita coisa sem um compromisso assinado mesmo. Da mesma forma, vejo eu que existe uma possibilidade da compra ser aprovada com uma condição de que a Microsoft não limite alguns dos títulos da Activision apenas a seus serviços de streaming, deixando-os disponíveis para que outras empresas também contem com eles em seus serviços (Call of Duty, Diablo, Overwatch, etc.) e cobrando um valor justo, que não seja abusivo ao se aproveitar da posição priviliegiada de ser dona deles. Inclusive, a Microsoft salientou isso nas respostas para o CMA, dizendo que prejudicar ou degradar serviços rivais diminuiria significativamente a adoção da tecnologia, e que pelo contrário, ela incentiva que mais empresas passem a adotar esse método de distribuição, que é fundamental para que o mercado de jogos em nuvem tenha sucesso no longo prazo.