Essa recente especulação de jogos japoneses na
Xbox só reforça uma hipótese que eu venho enfatizando faz um tempinho: a Playstation sequer pagou e, se pagou, pagou valores ínfimos para ter esses jogos exclusivamente no PS4. Os jogos só não saíram na caixa por conta do risco de custear o port e o jogo sequer se pagar dado (i) reduzida base de consoles e (ii) baixo interesse do público ocidental em jogos japoneses, mesmo que isso seja difícil de acontecer. A
Platinum Games deu uma declaração dessa natureza (antes do dedinho do Phil), a de
Ni-Oh idem e agora a
Atlus. Centenas de jogos foram anunciados como console debut na E3 de 2016 da Playstation e, mesmo três anos depois, a maioria nunca deu as caras no console da Microsoft. Saem para PC, às vezes até pra Switch, mas não para a
Xbox.
Foi um vacilo inimaginável da plataforma não ter articulado com os estúdios japoneses desde o princípio. Se você tem uma base mais modesta, precisa
garantir que os desenvolvedores se interessem por ela por outros motivos a não ser o potencial de vendas. Pode ser um incentivo financeiro, de equipe, facilitar o porte em termos de programação... Uma plataforma PRECISA de conteúdo. Caso contrário, está fadada ao fracasso. E de fracasso a Microsoft entende muito bem com o saudoso Windows Phone que (adivinha?) sofreu
EXATAMENTE desse mesmo problema de relacionamento com publishers e desenvolvedores. Lembrei-me dele recentemente depois de ver esse
excelente vídeo e não pude deixar de relacionar algumas coisinhas com a situação da
Xbox atualmente.
O sistema foi carregado por sites e fãs da Microsoft por ANOS, sempre com milhões de promessas e esperança de que um dia ele alavancasse. Digo isso pois acompanhei todo o processo na época como usuário de um Lumia 930. E a coisa foi morrendo, pouco a pouco, até que um belo dia a Microsoft veio a público e disse que o Windows Phone foi um erro e que a plataforma seria encerrada definitivamente. Lógico, a
Xbox hoje está bem distante de qualquer coisa do gênero, mas é interessante para pensarmos como as coisas vão surgindo aos poucos e logo tomam proporções incontroláveis. Hoje, me parece que a Microsoft está bem mais esperta com o
Xbox Game Studios do que foi em relação ao Windows Phone. Seus estúdios recém-adquiridos são receitas garantidas, assim como o Office é. Se eu não consigo vender o pacote Office no meu Windows Phone,
por que não vender no Android ou no iOS? É a certeza de que o dinheiro vai entrar. Porém, enquanto as plataformas iOS e Android foram ficando cada vez mais robustas em termos de conteúdo, a Windows Phone ficava cada vez mais esquecida, e isso culminou inevitavelmente no seu fim.
Essa ausência de conteúdo foi, de longe, a maior reclamação dos usuários. Eu tinha apenas o pacote Office no meu dispositivo, enquanto o Android tinha não só o pacote Office mas o Youtube Oficial. Então enquanto a "Microsoft visionária" vinha com esse papinho do "fim das barreiras de plataformas" nos sites de notícia colocando o Office no Android,
a Google derrubava sistematicamente todos os seus aplicativos no Windows Phone, como Youtube, Google Drive etc. No fim, a Google levou a taça e o WP sucumbiu.
Aí você faz um paralelo com a
Xbox hoje nota e coisas
BIZARRAS como colocar toda saga Halo, a maior da Xbox, em um sistema como a Steam quando você já possui plataforma própria naquele dispositivo (Windows Store); todo dia especulação de
franquias clássicas no Switch da Nintendo etc. Enquanto isso a Microsoft com seríssimas dificuldades em angariar jogos relativamente grandes para a plataforma (não é um jogo de baixo orçamento japonês de nicho, estamos falando de Persona 5 e Ni-Oh. São jogos que passaram fácil de duas milhões de unidades vendidas), isso pra não falar da ausência completa de contrapartida dos jogos que até então podem sair em outras plataformas. Enfim, as franquias da Microsoft não vão deixar de existir, os estúdios tem um longo caminho de sucesso pela frente, assim como o Office também teve. Porém, tenho minhas dúvidas se a
Xbox ou a XGP avancem de forma sólida caso não tenham em sua diretriz uma postura firme de alavancagem via software e sigam o mesmo caminho do WP. A Epic Games está aí, peitando brutalmente a Steam com exclusividades, oferecendo cada vez mais vantagens para publishers e crescendo.
Será que ela faria o mesmo sucesso caso apostasse em "gamers, você pode jogar onde quiser! Steam ou Epic Store!"? Será que escolheriam a Epic Store nessa altura do campeonato? Ou melhor, será que um jogador usaria a Windows Store ou assinaria o XGP caso o game estivesse disponível no conforto da Steam? Esse é o X da questão. Quer jogar Halo MCC? Que tal assinar meu serviço aqui (caso queira alavancar XGP) ou comprar na minha loja (caso queira alavancar Windows Store)? Falta definir as prioridades, definir as frentes de atuação. É um marasmo que fica difícil identificar quais são os objetivos. Como diz aquela velha máxima do pato: quem quer fazer tudo, acaba não fazendo nada direito. E é bom ela ficar esperta com o Stadia vs xCloud, 2x0 pra Google já é demais.