Comecei a fazer esse tópico pensando mais em escrever para o resumo de amanhã, mas achei a entrevista interessante o bastante pra dar mais destaque pra ela em um tópico especial e deixar uma versão mais resumida no resumo. Então, vamos lá.
A MCV/Develop é uma revista do Reino Unido que tem como foco o mercado de videogames, talvez a galera já tenha ouvido falar do site, não sei. Enfim, uma das matérias da edição de janeiro (que você pode ler ou baixar gratuitamente aqui) é com Matt Booty, head da Xbox Game Studios. Entrevista essa que já começa bem ao afirmar (a própria revista) que nenhuma outra empresa de consoles parece tão pronta para a próxima geração quanto a Microsoft: o Xbox One X é um sucesso de proposta; o Series X parece ainda melhor; o xCloud tá crescendo com bons previews; o Game Pass tá muito bem, obrigado; as aquisições estão começando a dar resultado com os novos jogos chegando em breve; e, acima de tudo, um bom momento como um todo, com novas ideias e um senso de foco no ramo de videogames da Microsoft.
Uma transição mais tranquila
Para Booty, o lançamento do Series X será um pouco diferente em relação a gerações passadas, com uma proposta diferente, com compatibilidade entre todos os hardwares da Microsoft, tanto existentes quanto novos, terminando aquela questão de dar um "reset" a cada novo console. "À medida que nosso conteúdo comece a sair daqui a um, dois anos, todos os nossos jogos, como acontece no PC, vão funcionar pra cima e para baixo nas nossas famílias de dispositivos. Queremos ter certeza de que se alguém investe no Xbox entre hoje e o Series X, eles sintam que fizeram um bom investimento e que estamos comprometidos com eles com este conteúdo."
Como competir com a Sony
Quando questionado sobre a competição com a Sony, Booty reconheceu os pontos positivos da empresa japonesa nessa geração, como seu hardware, construindo uma comunidade, lançando bons exclusivos first party, mas decidiu focar em três pontos que a Microsoft precisa fazer: "Antes de tudo, temos que entregar as promessas que fazemos. Então, se dissermos que um jogo vai sair em uma determinada janela de tempo, temos que fazer isso acontecer, então, temos que melhorar nossa execução." A revista destaca que é uma declaração até um pouco estranha, já que a Microsoft não adiou tantos jogos nessa geração, mas sugere que ela quisesse lançar alguns jogos mais cedo, talvez. Booty continua: "Temos que ter certeza que estamos elevando o nível de qualidade, e que estamos lançando jogos que nos deem orgulho e que os fãs também se orgulhem dos exclusivos de Xbox. E, por último, temos que continuar criando personagens, histórias e mundos que transcendam gerações, dispositivos e plataformas. Você sabe, se você olhar para coisas como a Marvel ou O Senhor dos Anéis, quando os personagens da Marvel foram criados nos anos 60, ninguém sabia que existiria uma coisa chamada Netflix. Mas aqui estamos. E, você sabe, o catálogo da Marvel se vende muito no streaming. Então, penso que temos sorte de ter universos como Halo, onde personagens podem aparecer em séries, livros, quadrinhos e todos os tipos de jogos. Como Minecraft, que pode ser lançado em 23 plataformas e em escolas, e só precisamos nos manter focados em construir esses tipos de coisas que sejam geracionais e permaneçam por muito tempo."
Aquisições e cultura dos estúdios
Quando questionado sobre as aquisições, critérios de compras e investimentos futuros, Booty foi evasivo: "Nós podemos comprar mais estúdios no futuro ou não, mas nós chegamos em um ponto onde passamos da fase de adicionar novos estúdios. E tem um trabalho gigantesco para garantir que a adaptação desses estúdios à nova estrutura seja feita da maneira correta. Cada estúdio tem sua cultura, seu jeito de pensar. Nós investimos muita energia em ter certeza que eles entendam que a sua cultura será preservada, que eles serão únicos." Outro motivo para uma freada no número de aquisições é construir mais relacionamento entre os times. “Temos 15 líderes maravilhosos, e se estivermos sempre comprando coisas, sempre vai ter alguém que é novo, você sempre terá os estúdios antigos e os novos, e nesses casos, você não vê eles agindo como colegas compartilhando informações e experiências.”
O processo criativo dos estúdios
Booty também diz que se mantém fora do processo criativo, dizendo que gosta de fazer jogos e conversar com os estúdios, mas que o seu trabalho é ser mais neutro e dar segurança e suporte às equipes, com recursos e apoio, ao invés de ser uma espécie de game designer, interferindo diretamente nos projetos. “Agora, temos sorte de ter diversas maneiras de avaliar o progresso de um jogo. Temos um sofisticado sistema de pesquisa com usuários dentro do Xbox em Redmond, que está disponível para testar jogos e deixar pessoas chegarem e jogarem, de uma maneira mais sistemática e científica, então, conseguimos medir os avanços. Também temos um grande número de pessoas com 10 a 25 anos de experiência que vão jogar os jogos para nos dar suas opiniões. Eu prefiro trabalhar com outros grupos que deem feedback dos jogos e ter certeza de dar o suporte que eles precisam para construir seus jogos e verem sua visão pronta, porque a última coisa que eles precisam é um executivo chegando e se fazendo de designer.”
Amarrando tudo
Halo Infinite é o carro-chefe do Xbox, mas existe um receio de que um grande projeto possa estar tirando recursos de outros estúdios. Para Booty, não tem nada disso. Ele diz que existem estúdios com diversas equipes, capazes de tocar diferentes projetos, e que eles não estão forçando, por exemplo, uma parte do time de Minecraft a ajudar em Sea of Thieves. “Cada um tem sua cultura, suas ferramentas, suas tecnologias. E eles certamente compartilham informações, técnicas e experiências. Mas não estamos naquele ponto onde vamos querer mover pessoas de um estúdio para outro.”
Jogos com início, meio e fim
Recentemente, Phil Spencer ocmentou que o Xbox Game Pass pode ser um excelente lugar para jogos com “início, meio e fim”, dando a entender que mais jogos single player podem estar a caminho. Para Booty, “não tentamos ser tão diretivos em relação ao conteúdo, mas a melhor coisa do Game Pass é que não temos que nos preocupar com essas questões. Isso porque o Game Pass é o serviço, a estrutura, então, nos processos de aprovação e revisão de jogos, não preciso perguntar ‘qual seu modelo de serviço, de monetização, teremos DLCs, etc.’. Os times podem fazer os jogos que eles quiserem. Agora, The Outer Worlds parece estar indo muito bem, talvez tenha uma falta de jogos assim no momento, e pessoas gostariam de mais jogos com suas 20 horas com um início, meio e fim. Mas eu acho que, olhando de cima, é algo que não temos que nos preocupar mais, porque seja um jogo com Bleeding Edge, com estrutura de um F2P, de um game as a service, ele irá se sair bem no Game Pass. E, se viermos com um outro jogo como Hellblade ou The Outer Worlds, com 12 ou 25 horas, que tenha uma espécie de final, é bom para o Game Pass também.”
Fonte: Mcvuk
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Gostei dessa entrevista, sintetizou bem muito do que temos visto com a empresa nos últimos anos, e valorizou mais uma vez como a Microsoft não esperou por uma nova geração pra promover mudanças, mas foi qualificando sua oferta com o negócio em movimento. É um dos motivos pro otimismo em relação a seu futuro, e fecha bastante com a nova cultura implementada quando Satya Nadella entrou, e que o Phil Spencer comentou naquela palestra da DICE há uns dois anos.
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